Em entrevista exclusiva à 36Kr, Long Chen, professor de prática de gestão em finanças da Cheung Kong Graduate School of Business, compartilha suas percepções sobre ESG e revelando uma perspectiva diferente das narrativas convencionais sobre compliance e investimento.
De forma interessante, ele discute o ESG como uma história de negócios dinâmica, impulsionada pela imaginação. Essa perspectiva encoraja uma abordagem mais ponderada para a tendência atual do ESG: empresas em diferentes estágios de desenvolvimento operam em diferentes condições, por isso devem encontrar seu ritmo e estabelecer expectativas realistas para os desafios futuros ao avançar pelo ESG.
Em última análise, o ESG é uma personificação da natureza humana, segundo o professor Chen. Por isso, só se destaca nessa área quem entende a natureza humana.
Como você define imaginação quando se fala de compliance em ESG?
Chen – Para implementar o ESG nas empresas, precisamos de um mecanismo ganha-ganha, com benefícios que motivem todas as partes. É assim que opera uma economia que funciona bem: as pessoas ficam ansiosas para participar quando veem valor. Com ESG deve ser o mesmo.
Criar esse mecanismo de negócios requer criatividade e imaginação. Nesse sentido, o ESG não deve se limitar à conformidade; deve resolver problemas e despertar uma nova vitalidade. Assim como todo avanço nos negócios envolve criatividade, uma estratégia ESG bem-sucedida cria valor para as empresas, o que reforça seu envolvimento com o tema para que se torne um design de negócios eficaz.
“O ESG não deve ser frio, rígido e contra a natureza humana, senão ninguém estará disposto a praticá-lo.”
Long Chen
Essa é uma abordagem inteligente para tornar o ESG sustentável. Em outras palavras, para que as empresas entrem de forma consistente no ESG, quem cria o sistema deve entender a natureza humana – a parte intrigante do design de negócios. Não devemos apenas convencer as empresas a usar o ESG a partir de uma posição moral elevada. Em vez disso, devemos formatar o sistema para que organizações e usuários, uma vez que vejam o valor do processo, estejam dispostos a se envolver. O ESG não deve ser frio, rígido e contra a natureza humana, senão ninguém estará disposto a praticá-lo.
Você promoveu o ESG em iniciativas estratégicas no Alibaba quando era CSO. Acha que essa é a abordagem correta? Se uma empresa deseja impulsionar o ESG, qual departamento ou quem deve liderar esses esforços?
Chen – Depende de como a empresa vê o ESG. Vários fatores são cruciais: primeiro, qual é o posicionamento estratégico do ESG e qual é a sua relação com a empresa? Em segundo lugar, a empresa precisa estabelecer um mecanismo de governança para práticas ESG que não fique sujeito às preferências individuais ou mudanças da equipe de liderança.
Em terceiro lugar, a empresa precisa de um design de negócios cuidadoso para integrar o ESG em sua operação de negócio, para que todos possam ver seu impacto positivo no desempenho. No Alibaba, propusemos a ideia do “Escopo 3+” para capacitar nossa empresa e nossas cadeias de fornecimento na redução de emissões geradas no nosso ecossistema.
No Alibaba, o ESG não foi considerado apenas para fins de conformidade, e sim como um esforço benéfico para o crescimento e a certeza de negócios futuros. Ao integrar o ESG, as empresas também podem desenvolver novos recursos.
Esse é um caminho replicável para outras empresas?
Chen – A abordagem “Estratégia-Governança-Negócios” para integrar o ESG se aplica principalmente a empresas maiores, geralmente mais maduras em práticas de responsabilidade social e percepção de marca.
No entanto, as empresas têm ritmos de desenvolvimento diferentes, e devemos respeitar isso. Têm prioridades e necessidades variadas. Algumas ainda não estão prontas ou motivadas o suficiente para adotar o ESG. Se os líderes forçarem, poderão encontrar resistência interna significativa.
Acredito ser essencial para uma empresa definir a relação entre seu negócio e ESG com base em seu estágio de desenvolvimento. Isso determinará se é uma ferramenta de conformidade, estratégia ou negócio, e onde começar e concentrar esforços.
Como você vê a recente emergência de novos padrões ESG?
Chen – Para a maioria das empresas, é improvável que o ESG se torne uma prioridade, a menos que estejam sob pressão externa. Quando os interesses econômicos entram em conflito com as metas de neutralidade de carbono, mesmo nos níveis nacional e governamental, há hesitação e compensações, imagine nas empresas.
A essência dos negócios é um jogo ganha-ganha para todas as partes, e o ESG serve como o elo de ligação entre essas partes.
Long Chen
Vejo esses novos padrões ESG como oportunidades, pois as empresas podem aprimorar sua marca e a percepção do consumidor. O ESG fornece uma nova janela e um outro mecanismo de comunicação para as empresas.
Antes as organizações eram julgadas principalmente por seu desempenho financeiro – se eram lucrativas, saudáveis e em crescimento. A relação entre uma empresa e a sociedade e sua governança interna não se refletia totalmente nos relatórios financeiros. Agora, com padrões ESG, elas têm uma enorme oportunidade de comunicar o outro lado de suas histórias.
No entanto, praticar ESG leva tempo e requer compromisso contínuo. Ao longo desse processo, o ESG não é apenas conformidade ou idealismo. Trata-se de entender a natureza humana. A essência dos negócios é um jogo ganha-ganha para todas as partes, e o ESG serve como o elo de ligação entre essas partes.
Recentemente há muita discussão sobre a relação entre IA e sustentabilidade. O que você pensa sobre isso?
Chen – Em geral, a IA não é um fardo para o desenvolvimento sustentável. No entanto, no estágio atual, a tensão entre os dois é inevitável. As pessoas já estão considerando o possível gargalo de energia que o desenvolvimento de IA pode encontrar e estão procurando novas soluções para essa demanda.
Isso ocorre porque a IA está atualmente em uma fase de crescimento intenso e intensivo em energia, o que coloca uma pressão significativa na eficiência e produção de energia. Mas essa realidade, por sua vez, aumentará várias capacidades. Por exemplo, os data centers são agora um pilar crítico, e seu desenvolvimento, com energia renovável, fará avançar significativamente o alinhamento da IA e da sustentabilidade. Isso traz muitas oportunidades de negócios.
Hoje a evolução da tecnologia e o desenvolvimento sustentável estão mais intimamente interligados do que no passado. Muitos líderes querem integrar a IA ao desenvolvimento sustentável desde o primeiro dia.
Chen – Essa é uma questão de práticas ESG em tecnologia. Devemos primeiro abordar as questões ESG em tecnologia para que ela progrida. À medida que a tecnologia avança, ela também deve atender aos padrões ESG. Isso precisa ser feito desde o início para que ser verde se torne uma vantagem competitiva diferenciada. Para que a IA se alinhe com a sustentabilidade, esse desafio deve ser enfrentado.
*Este artigo foi publicado originalmente no site da 36Kr em chinês.