São bem mais do que 11 horas à frente. Ah, bem mais.
A edição 2025 do Salão de Xangai, o maior evento automotivo do mundo, foi um vislumbre acelerado de um futuro já em funcionamento. E um aviso aos passageiros: se continuarmos olhando a China com os mesmos olhos de sempre, este amanhã passa hoje sem pedir licença.
Xangai é a vitrine de um país que superou a fase de copiar, adaptar ou correr atrás. A China de agora lidera, provoca, dita ritmo. E faz isso com a confiança silenciosa de um carro elétrico — sem arrogância, sem espetáculo. Apenas entrega.
Na minha segunda visita ao Xangai Autoshow como executivo da BYD, vi, principalmente ‘dentro de casa’ — nos estandes da marca-mãe, da Denza, da marca premium, Fangchengbao, da nossa marca offroad, e Yangwang, aquela de supermáquinas — automóveis com interiores que parecem salas de estar futuristas, software embarcado que entende o motorista muitas vezes melhor do que ele mesmo, estações de recarga que fazem um carro estar pronto em minutos, não horas. E testemunhei isso não como protótipo, mas como produto. Pronto. Concluído. (Pelo menos até o nanossegundo seguinte em que alguém começa a pesquisar para melhorá-lo.)
É natural se perguntar: mas será que pega? Será que vai funcionar em mercados como o Brasil? A resposta está justamente em como essa nova China pensa. O norte da inovação não está em impressionar. Está em escalar. Tudo ali é desenhado para funcionar em larga escala, em diferentes contextos, com custos que tornam viável — e não encarecem — a transformação.
Fiquei pensando em como nós, no Ocidente, muitas vezes tratamos inovação como espetáculo: luzes, discursos, buzzwords e promessas para daqui a dez anos. Na China, inovação, por mais que cause impacto, é no sapatinho, bem pragmática. E por isso mesmo, mais eficaz. Em vez de falar do futuro, eles entregam o futuro.
Isso me impactou profundamente. Porque me dei conta de que precisamos ajustar nosso foco.
Enquanto muitos ainda debatem se o carro elétrico “pega no Brasil”, a China já discute a segunda geração da eletrificação, com baterias ainda mais eficientes na segurança, na performance e na longevidade (a capacidade de reciclagem já é virtualmente 100%). Enquanto alguns comemoram metas de carbono neutro para 2050, a China já implementa corredores elétricos com logística inteligente e inteligência artificial no tráfego urbano.
Aí mora o aprendizado que me toca. O futuro não apenas como linha do tempo, mas como postura. Uma decisão de caminhar firme em determinada direção. E com coragem.
A China fez essa escolha. E está caminhando rápido.
Nós, aqui do outro lado do mundo, temos duas opções: ficar debatendo se o futuro vai chegar — ou nos colocar em movimento.
Eu sei em qual pista quero estar.