Em agosto de 2024 celebramos o 120º aniversário de Deng Xiaoping, arquiteto da reforma e da abertura econômica da China. Para nós, esse também é um marco importante na comemoração de sua contribuição para o rejuvenescimento do país.

A transformação da China nas últimas quatro décadas – desde sua reforma e abertura no final dos anos 1970 – é um fenômeno altamente incomum. Nosso Produto Interno Bruto aumentou de US$ 150 bilhões em 1978 para cerca de US$ 19,5 trilhões* em 2025, levando o país a se tornar a segunda maior economia do mundo.

O PIB per capita saltou de US$ 157 em 1973 para US$ 13 mil* em 2025, ultrapassando o de países como Índia e Tailândia. Em cidades de primeiro nível como Xangai, Pequim e Shenzhen, o PIB per capita médio varia entre US$ 26 mil e US$ 28 mil, superando o valor considerado como alta renda pelos padrões do Banco Mundial.

O PIB da China aumentou de US$ 150 bilhões em 1978 para cerca de US$ 19,5 trilhões em 2025, levando o país a se tornar a segunda maior economia do mundo.

Medido em paridade de poder de compra (quanto uma moeda pode comprar em cada país), o PIB da China é de US$ 35 trilhões, o maior do mundo. O volume de comércio da China aumentou 467 vezes, de US$ 14,7 bilhões em 1977 para US$ 6,9 trilhões até 2022.

Em 2024, a China era o principal parceiro comercial de mais de 120 países. Doze empresas chinesas entraram na lista das 500 maiores da Fortune em 2001 – em 2024, esse número subiu para 133, contra 139 dos Estados Unidos.

Atravessar o rio tateando as pedras

O crescimento econômico e as mudanças sociais da China nas últimas quatro décadas foram fenomenais – e muitas pessoas apontaram isso. John Van Fleet, um acadêmico da Universidade Jiao Tong de Xangai, chama esse fenômeno de “primeira vez na história”.

No final dos anos 1970, Deng Xiaoping, que retornou ao poder, chegou à conclusão de que a China precisava fazer uso do capital não estatal e do capital estrangeiro para complementar o capital estatal. Assim, “reforma” refere-se à adoção de capital não estatal, enquanto “abertura” tem a ver com o capital estrangeiro.

Esse experimento sem precedentes foi descrito por Deng como “atravessar o rio tateando as pedras”. Eu pessoalmente testemunhei esse surto de crescimento quando comecei a trabalhar como consultor estratégico no escritório da Boston Consulting Group em Xangai, no início de 1993.

As empresas chinesas também começaram a descobrir maneiras de se organizar melhor e encontrar melhores formas de crescimento.

Multidões de empresas ocidentais nos procuravam para ajudar a traçar o curso de sua estratégia na China, seja usando o país como base de fornecimento ou explorando seu mercado interno. Às vezes, como ambas as coisas.

As empresas chinesas também começaram a descobrir maneiras de se organizar melhor e encontrar melhores formas de crescimento. Muitas partes do país estavam buscando modos melhores de governar por meio de regulamentações e políticas naquele cenário em evolução.

O governo chinês frequentemente estudava o que outras administrações haviam feito ao estabelecer políticas e regulamentações, por exemplo, no que diz respeito à saúde. Práticas internacionais eram estudadas em nível governamental e empresarial, para ver se algo útil poderia ser assimilado.

As empresas chinesas queriam aprender com as melhores de seu setor, em termos de práticas de gestão, organização e desenvolvimento de pessoas. Frequentemente, elas se comparavam com as empresas internacionais de melhor desempenho.

Quatro décadas que viraram um marco

Além do crescimento do PIB, a transformação da China foi profunda. Em 2020, quase 800 milhões de pessoas haviam saído da extrema pobreza, seguindo as definições do Banco Mundial.

A taxa de alfabetização da China passou de 20% em 1949 para cerca de 97%. A expectativa de vida na China foi de 35 anos em 1949 para 79 anos em 2024. A altura dos homens chineses de 18 anos aumentou de cerca de 165 cm na década de 1950 para 175 cm em 2023. Hoje, os chineses consomem mais proteínas do que os americanos. E a lista continua.

Vários aspectos, na minha opinião, fazem com que as últimas quatro décadas tenham sido um marco na China. Primeiro, o tamanho e a complexidade do país, que tem 1,4 bilhão de habitantes e grande diversidade geográfica – o que torna qualquer grande empreendimento um desafio significativo.

A globalização e o envolvimento da China nesse processo foram fatores significativos, e a extensão do fluxo de mercadorias através das fronteiras foi sem precedentes na história humana.

O segundo ponto é que a China passou por um ajuste fundamental em sua ideologia política e econômica. Adotou um modelo composto de propriedade corporativa, incorporando empresas estatais, privadas e estrangeiras. Essa abordagem composta é inerentemente complexa e dinâmica. Manter um equilíbrio eficaz dentro de um sistema tão vasto e intricado está longe de ser simples.

Em terceiro lugar, a globalização e o envolvimento da China nesse processo foram fatores significativos, e a extensão do fluxo de mercadorias através das fronteiras foi sem precedentes na história humana. Como a fábrica do mundo, a China esteve no centro desse processo de globalização.

Os investimentos transfronteiriços também foram relevantes, especialmente com grandes fluxos de investimento direto estrangeiro fluindo para a China. Tal grau de conectividade internacional não tem precedentes.

Por fim, a qualidade intrínseca das mudanças na China foi notável. O país evoluiu de um fabricante de baixo custo, com pouca consideração por preocupações ambientais, para um produtor de produtos sofisticados e um contribuinte para a proteção ambiental.

Amplamente conhecida como uma nação imitadora há apenas algumas décadas, a China agora é vista como uma nação inovadora e se tornou um país prioritário para laboratórios de pesquisa e desenvolvimento de empresas chinesas e não chinesas.

Marcas chinesas, antes percebidas como de baixa qualidade e não competitivas, ganharam significativa popularidade. Enquanto um número muito pequeno de chineses podia viajar para fora da China há apenas algumas décadas, cerca de 87 milhões de chineses viajaram internacionalmente em 2023. Essas mudanças ocorreram frequentemente em etapas, à medida que os chineses superaram cada fase com velocidade e intensidade.

Que um país tão grande e complexo tenha sido capaz de buscar uma nova abordagem em meio a rápidas mudanças globais faz com que a transformação da China seja uma verdadeira “primeira vez na história”.

*Dados atualizados do Fundo Monetário Internacional em março de 2025.

Professor de Prática Gerencial em Estratégia, Cheung Kong Graduate School of Business (CKGSB) PhD pela Universidade da Califórnia, Berkeley